domingo, 7 de setembro de 2008

A AVALIAÇÃO ESCOLAR

Resumo: Para que a avaliação da aprendizagem escolar seja uma experiência intelectualmente estimulante e socialmente relevante, é indispensável à mediação de professores para a verificação do estágio de desenvolvimento que o seu aluno encontra-se dentro do processo da construção do seu conhecimento e assim caminhar rumo à superação da concepção classificatória que a avaliação possui dentro do currículo escolar.
Palavras-chave: Avaliação. Aprendizagem. Processo.

A avaliação da aprendizagem dos alunos tem sido com freqüência questionada nos últimos anos, e muitas propostas surgiram como alternativas à avaliação tradicional que é vista como excludente e autoritária. Com o processo acelerado de mudanças que a sociedade vem sofrendo faz-se necessário uma mudança também na educação das pessoas para que o seu comportamento esteja adequado à contemporaneidade, colocando o cidadão em condições de conceber e refletir efetivamente sobre a constante evolução do mundo. E todo este novo processo pressupõe a revisão da própria prática pedagógica, e especialmente das concepções e práticas na avaliação escolar. É o momento de a avaliação ser trabalhada como parte do projeto-pedagógico da escola, definindo suas intencionalidades com ênfase na aprendizagem, partindo de um diagnóstico que servirá para a reorientação de práticas docentes, num sentido processual, formativo e contínuo frente ao desenvolvimento e construção do conhecimento pelo aluno. A própria história da educação brasileira mostra que a avaliação nas escolas públicas, especialmente, sofreu um grave e considerável aumento no processo de burocratização. Cada vez mais os alunos passaram a ser vistos como um número e agrupados em classes organizadas segundo o nível da sua aprendizagem. Assim, avaliação que se pratica na escola é a avaliação da culpa. Aponta, ainda, que as notas são usadas para fundamentar necessidades de classificação de alunos, onde são comparados desempenhos e não objetivos que se deseja atingir. A aplicação ou organização da avaliação representa um ritual dentro das instituições de ensino e faz parte do calendário escolar direta ou indiretamente, o que eleva a avaliação ao eixo de medida quantitativa do conhecimento. Ou seja, o currículo passa a mero massificador, porque não é planejado para a necessidade/realidade do aluno, mas sim dentro de uma hierarquia de turmas e níveis, que deverão apresentar um resultado uniforme. Essa forma de entender a avaliação ainda vem carregada de influências do positivismo, é avaliação classificatória, voltada para a seleção social, e que vem aos poucos perdendo o seu sentido. Vive-se a hora de criar ou recriar novos mecanismos, critérios e procedimentos que entendam a avaliação como um processo capaz de promover a aprendizagem e assim melhorar/recuperar o ensino.
De acordo com Lima (1998), “a avaliação encontrada na escola apóia-se em um conceito específico da relação entre aprendizagem e desenvolvimento, no qual estes processos aparecem desvinculados entre si”. Para isso é importante entender que o desenvolvimento está ligado também a parâmetros de herança genética, e a aprendizagem irá depender do contexto que a pessoa está. A aprendizagem é um momento necessário do desenvolvimento humano, que não se dá de forma isolada e encerrada em si mesma, e a avaliação deve abranger tanto as aprendizagens escolares quanto o próprio processo de desenvolvimento do indivíduo. Avaliar a aprendizagem de acordo com Luckesi “não é e não pode continuar sendo a tirana da prática educativa, que ameaça e submete a todos.” A avaliação da aprendizagem, por ser avaliação, “é amorosa, inclusiva, dinâmica e construtiva”, o oposto da execução de exames, que não são amorosos, são excludentes, não são construtivos, mas classificatórios. “A avaliação inclui, traz para dentro; os exames selecionam, excluem, marginalizam.”
Avaliar é uma das atividades mais comuns na rotina da sociedade, e ao avaliar, procura-se identificar fatores que efetivam a compreensão baseado em um referencial já existente no meio cultural de quem está avaliando. Segundo Lima (1998) a avaliação é, assim, socialmente construída e tem um papel importante na constituição da auto-imagem. Entretanto, as regras que norteiam a avaliação escolar não ficam claras aos alunos, já que ela é feita pelo professor em relação muitas vezes a uma aprendizagem que não ocorreu, e essa passa a ser um efeito negativo do estudante. Diante da sua percepção este formatará a sua própria idéia do processo avaliativo, um verdadeiro julgamento de si mesmo, que representa uma grande importância porque poderá causar rupturas e dificuldades para a progressão do aluno em relação aos seus conhecimentos.
A avaliação existe, na escola desde a sua criação, e desde então continua com caráter punitivo, inclusive até metade do século passado encontra-se relatos de punição física. E hoje como está sendo vista a avaliação? Parece que se tem uma confusão entre avaliação do comportamento e avaliação da aprendizagem, e isso interfere diretamente na formação do educando como cidadão. A avaliação da aprendizagem constitui-se um elemento fundamental do processo educativo, no entanto as novas formas de ensinar não trazem consigo ainda as novas formas de avaliar. Resgatar a avaliação como uma possibilidade de troca, de diálogo, de diagnóstico, de forma transparente e identificando o erro como elemento de um processo e não como momento final, é um dos grandes desafios que professores tem em suas mãos para que a avaliação dentro da escola certifique e propicie ao educando novas possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem. Esta com certeza é uma tarefa árdua para os professores, principalmente porque que eles foram educados dentro da perspectiva de avaliação autoritária e excludente, e transformar a sua própria prática diante de um modelo não vivenciaram dificulta ainda mais este processo de mudança do paradigma na educação atual.
É de vital importância a criação de um sistema equilibrado de avaliação que forneça tanto ao professor, quanto a cada um dos alunos, as informações e resultados sobre o andamento e as dificuldades encontradas ao longo do processo de aprendizado. Essa tarefa de reconhecer as competências dos alunos é parte do trabalho do professor, dando-lhes o mérito; mas também é fundamental esclarecer sobre suas fraquezas e dificuldades, orientando-os para a superação deste momento tendo em vista um melhor desempenho contínuo, que envolverá o fortalecimento da auto-estima e da confiança nas relações de professor e aluno. A forma de avaliar a aprendizagem deve caminhar a favor do processo e nunca tentando freá-lo para quantificá-lo. Outro momento de destaque na avaliação é o retorno (feedback) em relação as atividades desenvolvidas, o que nem sempre acontece devido a escassez de tempo para esse tipo de encaminhamento. Professores e alunos concordam que este momento é de grande valor para a aprendizagem, e também entendem que não como existir um modelo único de instrumentos avaliativos, e que as diferenças entre disciplinas precisam ser ressaltadas, observadas e contextualizadas à realidade em que vivem. De outra forma não há como professores e alunos ficarem satisfeitos e de acordo com uma avaliação mais justa e comprometida com a inclusão, de forma significativa dentro da prática pedagógica.
Para Paulo Freire:
“A avaliação não é o ato pelo qual A avalia B. É o ato por meio do qual A e B avaliam juntos uma prática, seu desenvolvimento, os obstáculos encontrados ou os erros ou equívocos porventura cometidos. Daí o seu caráter dialógico.”

Conclui-se portanto, que a avaliação precisa estar presente a cada momento, no sentido de refletir sobre o trabalho realizado e perceber a necessidade ou não de reorientá-lo. Isto pressupõe o diálogo, que não só o professor avalie, mas que também o educando e, se possível, todos os demais membros da comunidade escolar integrem do processo. A auto-avaliação de cada um e a avaliação coletiva,efetivada em um Conselho de Classe onde o diálogo seja valorizado e todos têm direito a voz e dever de ouvir e refletir sobre cada ponderação, de forma que se tome a decisão mais justa e consensual para o sucesso do trabalho pedagógico, que é responsabilidade de todos, é fundamental para essa transformação na forma de conduzir o processo avaliativo dentro das escolas. Educador e educando assim tornam-se aliados num processo comum de crescimento, em que a avaliação é o ato de investigação para a reconstrução do conhecimento.


REFERÊNCIAS

FILHO, Antonio Augusto Alves Mateus. Avaliar para quê? Caderno do professor 10. Disponível em:
http://www.multirio.rj.gov.br/portal/_download/cadernos/10_avaliacao.pdf
Acesso em 14 de junho de 2008.

LIMA, Elvira Souza. Avaliação na escola. Ed. Sobradinho 107. São Paulo, 1998.

LUCKESI, Cipriano Carlos. O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem. Disponível em:
http://www.artmed.com.br/patioonline/patio.htm?PHPSESSID=47c842e39090dec902020db09b210123. Acesso em: 14 de junho de 2008.
[1] Alexandra Cichowski Flores, pedagoga, especializanda do Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” – Supervisão Escolar- Portal/ASSERS, POA, junho, 2008.

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